Uili Bergammín Oz está na sétima edição de seu livro, que já vendeu cerca de 10 mil cópias. O autor da Serra Gaúcha, hoje reside em Caxias do Sul e procura novos horizontes para o seu projeto. Atualmente, é autor tradicional da editora Flyve e acabou de lançar "A Mordaça" pela nossa casa.
Vem conhecer um pouco mais sobre o Uili. Confira a entrevista completa:
Conta um pouco sobre a sua história como escritor: como começou?
Antes de escritor, obviamente, me tornei leitor, e no lugar mais esquisito: no banheiro lá de casa. Minha irmã esqueceu ao lado do vaso uma adaptação de Dom Quixote. Começo a ler muito a partir daquilo e daí para a escrita foi um passo. Primeiro poemas para as namoradinhas da adolescência (conquistei alguns amores com eles), depois contos e crônicas. Uma ex-namorada enviou um poema que fiz pra ela para um concurso, sem me avisar, e acabei vencendo o prêmio, com uma boa bolada em dinheiro. Aí entendi que o que eu fazia era arte e podia inclusive ser um modo de sobrevivência. Não parei nunca mais. O seu lançamento da Flyve já está na sétima edição, certo? Como vem sendo a repercussão?
O livro A Mordaça é meu best-seller. Já vendeu mais de 10 mil exemplares, virou peça de teatro e leitura complementar em diversas instituições de ensino. É muito bacana ouvir jovens dizendo que é o melhor livro que já leram em suas vidas, ou que passaram a gostar de ler por causa desse livro. Saber que estou fazendo por muita gente o que aquela adaptação do Dom Quixote fez por mim é realmente muito revigorante. A nova edição ficou linda, com um projeto muito ousado. Estou ansioso para ver os resultados dessa parceria. O que o levou a escrever "A Mordaça"?
Quando vim morar em Caxias do Sul, dividi o aluguel com outros seis rapazes, e a televisão é quem mandava naquela casa. À noite, depois do trabalho e dos estudos, todos sentavam na frente da tv e não havia conversa. Eu tentava falar sobre meu dia, sobre o que eu estava lendo ou estudando, e ninguém respondia. Foi quando a internet começou a explodir por aqui. Eu notei que algo grande e perigoso estava acontecendo e resolvi escrever sobre isso. Na época a vilã ainda era a tv, mas logo depois surgiram outros aparelhos, ainda mais poderosos. Escrevi como texto dramatúrgico, ou seja, para o teatro. Deixei engavetado por muitos anos, sem mostrar pra ninguém. Depois de alguns anos, eu já era escritor conhecido na região, um grupo de teatro me pediu para escrever uma peça, então lembrei daquele meu rascunho. Apresentei pra eles, eles adoraram, compraram os direitos da peça e montaram o espetáculo. Só depois nasceu a ideia do livro. Quais os limites entre a ficção e a realidade apresentados no seu livro? Como ele conversa com a sociedade atual?
O texto inicial foi escrito há quase 20 anos, mas continua mais atual do que nunca. Não sei quais os limites entre ficção e realidade, pois a realidade muda com extrema rapidez. A gente não consegue acompanhar os avanços tecnológicos. O que sei é que a sociedade atual precisa refletir sobre o que está acontecendo, para não ser atropelada pelos excessos. Especialmente com relação aos jovens, isso pode ser muito, muito perigoso.
Como a filosofia e a cultura pop influenciaram e estão presentes na obra?
Estudei e ainda estudo filosofia e curto muito a cultura pop. Não tenho como não me influenciar por isso. Filosofar é pensar sobre a vida e o mundo e muitos filmes, livros e músicas que ouço também fazem isso. Foi um caminho natural colocar no livro algumas de minhas influências, para embasar e referendar o que digo. Quais autores lhe inspiram?
Cervantes com seu Dom Quixote é uma grande influência. Basta ver que os dois grandes personagens do clássico espanhol são o oposto um do outro. Dom Quixote é alto, Sancho Pança é baixo. O primeiro é magro, o outro é gordo. Um é o sonho, o outro a realidade. Meus personagens, Neo e Arcade, também são o oposto um do outro: um adepto às novas tecnologias, o outro contra. Eles se completam. Eles são nós. Me conta, quais títulos você já publicou? De qual gostou mais? Há algum projeto novo? Pode falar sobre ele?
Já publiquei 17 livros, entre contos, crônicas, poemas, livros infantis, biografias e traduções. A Mordaça tem um lugar especial na minha bibliografia, pois foi o que mais teve aceitação do público. É um livro direto, sem floreios, que traz uma mensagem cristalina, potente e necessária. Outro livro que tenho muito carinho é O Desafio dos Sonhos, e também minha tradução e adaptação do Dom Quixote. Estive lá na Espanha para realizar esse trabalho. No momento estou escrevendo meu primeiro romance, que está ficando espetacular. Acho que será um divisor de águas na minha carreira. Qual o seu sonho como escritor?
Meu sonho de escritor é bem simples: ter meus livros traduzidos no mundo inteiro, vender milhões de exemplares, mudar a vida das pessoas com minha arte. Algo bem banal e singelo... (risos).
A escrita é um trabalho integral ou você também exerce outra profissão? Qual?
Sou proprietário de uma agência de viagens aqui em Caxias do Sul, a Sonhe Mais Viagens e Turismo, mas fico pouco tempo na empresa. Além disso, ministro cursos e palestras presencias e agora virtuais, para todo o Brasil, sobre leitura e escrita. Também escrevo textos para uma agência de propaganda. Por que resolveu escrever sobre tecnologia nesse universo fictício?
Pois era um assunto necessário, que estava caindo de maduro. Estamos no meio de uma revolução tecnológica e informacional, precisamos refletir sobre isso. Quanto mais lermos e falarmos sobre o assunto, mais compreenderemos o processo e saberemos lidar com ele. Isso em sala de aula é de suma importância. Por que os leitores deveriam ler "A Mordaça"?
Pois trata de um assunto extremamente pertinente e atual. Além disso, quem lê A Mordaça, de forma indireta, lê os milhares de livros que li, os filmes que assisti e as músicas que ouvi. O livro tem uma linguagem muito simples e direta, mas com uma trama que prende e que chama para a reflexão. Sem falsa modéstia, creio que seja um livro indispensável para o nosso tempo. Fala um pouco sobre os personagens do livro? Como você os imaginou e chegou neles?
Neo e Arcade são o oposto um do outro, influenciados por Dom Quixote e Sancho Pança. Neo vem de novo, adepto às novas tecnologias. Arcade é arcaico, vem de antigo, resiste à sedução da nova era. Eu, Uili, fui muito Arcade, por um bom tempo. Agora, durante a pandemia, tive que aprender a ser um pouco Neo. No meio disso tudo tem a Sofia, que representa a sabedoria, o equilíbrio, o bom senso, tão necessário ao nosso mundo. Pode dar um conselho para os escritores mais jovens? O que você diria para quem está começando?
Leiam muito, leiam de tudo, clássicos e contemporâneos. Treinem muito, nem que seja com diários. Mandem textos para concursos, para se testar. Eu já venci mais de 50 prêmios literários e escrevi 17 livros antes de me aventurar no meu primeiro romance. Escrever é uma arte, mas é também um negócio. É preciso ser bom, profissional, se quiser ter uma chance. E para os leitores: alguma recomendação?
Leiam autores nacionais. Tem muita gente escrevendo coisas fantásticas aqui no Brasil. Se o nosso leitor fomentar a nossa literatura, quem sabe um dia não nos tornemos um celeiro literário, com mercado forte, como Europa e USA. Todos ganham com isso.
Deixa um convite para as pessoas conhecerem seu trabalho.
Eu ficaria muito feliz e honrado que o leitor brasileiro (não só o do sul do país) conhecesse minha obra. Sou antes de tudo um bom leitor e um grande observador. Tenho algumas verdades que trago e que gostaria de compartilhar com vocês. Sou um pensador, não escrevo só para entreter, embora me preocupe com isso também. Meus textos sempre tocam em questões essenciais. E estou sempre aberto ao diálogo. Se ler meu livro, me contate, diga o que achou. Vamos exercer a dialética.
O Uili, inclusive, gravou um vídeo para as redes sociais da Flyve antes do dia 7 de setembro, com um convite bem especial para vocês. Veja aqui:
Quer saber mais sobre "A Mordaça"? Então acesse aqui e veja todos os detalhes no site da Flyve.
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