Por: Maria Anna Martins
O Flyvinho mandou dizer que foi exatamente assim que tudo aconteceu:
— Encontrei o lugar perfeito para o nosso estande na Bienal de São Paulo! — As penas vermelhas caíram em cima da página do livro que Violeta segurava, justamente no momento mais esperado: o beijo. Flyvinho sabia que ela não gostava de ser interrompida e, mesmo assim, suas duas penas agora pareciam marcadores de páginas, insinuando que ela deveria fazer uma pausa e prestar atenção no pássaro. — Ah pare de franzir esses bigodes para mim, Vilu. Vamos! É PERFEITO! Já até entrei em contato com o cara.
Vilu revirou os olhos antes de se dar por vencida e fechar o livro, não devolveria a pena, ela ficava linda em contraste com a página amarelada.
— Que cara?
— Aquele cara.
A gata arregalou os olhos.
— A-a-aquele?
— Aquele. — Flyvinho empinou o bico confiante. Seus olhos brilhavam em uma expectativa orgulhosa.
— Não acredito! — A cauda de Vilu se mexia em excitação, enquanto ela se levantava e colocava o livro de lado. — Você realmente teve coragem? Ele é tão misterioso. Rrrr.
O ronronar dela de aprovação fez o pássaro estufar o peito.
— Sim, o Lenhador está do nosso lado, e sabe a melhor parte? — Ele não a esperou responder. — Vamos para a Cabana Vermelha hoje à noite.
(...)
Violeta e Flyvinho estavam em frente à cabana, com suas paredes vermelhas vivas, mas já descascadas pelo tempo. Ela ficava em um local escondido e só foram capazes de achar com a ajuda do Lenhador. O vento soprava forte, o cheiro de livros aumentava a cada instante, e alguns galhos moviam suas folhas em movimentos fantasmagóricos. O conforto de bons enredos e o sibilar do frio encantado eram as principais promessas para aquela viagem.
O pássaro sentiu as penas da coluna arrepiarem, não saberia dizer se de expectativa ou medo. Já a gata, apesar de colocar um ar indiferente em seu caminhar felpudo, tinha certeza de que Flyvinho se superou dessa vez.
Se aproximaram da porta velha de madeira de lei. Vilu levantou a pata dianteira e arranhou a porta da Cabana Vermelha.
Os segundos se arrastaram. Flyvinho tomou um susto ao sentir um vento sussurrar em seu ouvido “Tem certeza de que quer entrar?”.
Mas estava tudo bem, o Lenhador prometeu que estaria.
Clic, clic, clic.
Com um chiado de trancas velhas enferrujadas a porta se abriu.
— Está pronta? — perguntou Flyvinho, estendendo sua asa.
A gata eriçou os bigodes.
— Estou sempre pronta para os livros. — Deu a pata aceitando o convite.
Juntos os dois entraram na Cabana Vermelha.
(...)
Quem olhasse de longe provavelmente colapsaria, com o cérebro não aceitando a imagem fantástica. A Cabana Vermelha pareceu vibrar, como um rubi recém lapidado ou sangue quente no chão, há quem diga que até pés de galinha surgiram debaixo dela enquanto penas vermelhas e pelos violetas saiam de suas janelas, transformando-se em um redemoinho que arrancou a estrutura do chão com barulhos altos de pregos se segurando, levando-a para longe.
O cheiro de livro novo, novos capítulos, os acompanhou durante todo o trajeto, encantando os curiosos, aqueles que ousaram sonhar com outros mundos.
Para suas equipes, o Lenhador, a Violeta e o Flyvinho deixaram um recado:
Sigam o cheiro dos livros, o cheiro das histórias, sigam até a Bienal de São Paulo. A casa está no número 88, com todas as penas, bigodes e magia que podemos oferecer.
Vocês têm coragem de voar com a gente?
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